A Quarta-feira de Cinzas, que este ano cai no dia 14 de fevereiro, marca o início de um importante período no calendário litúrgico da Igreja Católica, a Quaresma, visto como um tempo de reflexão, oração e caridade.

O padre Rodrigo Thomaz, vigário da Paróquia Imaculada Conceição do Ipiranga, graduado em Filosofia e Teologia, mestre em Teologia Sistemática pela PUC-SP e doutorando em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma) explica que a Quaresma é um tempo em que é possível chamá-lo de “grande retiro espiritual”, onde, durante 40 dias, por meio de práticas penitenciais (jejum, oração e esmola), se busca a “conversão do coração”.

O teólogo diz que o Catecismo ensina que “todos os anos, pelos 40 dias da Grande Quaresma, a Igreja une-se ao mistério de Jesus no deserto”. Segundo a Bíblia, este período é marcado pela peregrinação de Jesus no deserto, onde jejuou e foi tentado pelo Diabo, após ser batizado por João Batista.

Três foram as tentações sofridas durante a jornada: a sugestão de transformar pedras em pão para saciar sua fome, a oferta de todo o poder e glória dos reinos do mundo em troca de adoração e a proposta de atirar-se do pináculo do templo para que fosse salvo.

Preparo espiritual e redenção

Durante a Quaresma, o padre explica que adeptos da religião são convidados a se prepararem espiritualmente para a celebração da Páscoa, considerada o ápice do ano litúrgico da Igreja Católica, por meio do arrependimento de seus pecados, abstenção de certos prazeres e dedicação à oração, ao jejum e à caridade.

Muitas vezes, sacrifícios pessoais são colocados em prática durante os 40 dias, como deixar de comer carne vermelha às sextas-feiras ou renunciar a algum hábito específico.

“É tradicional que o jejum destes dias especiais seja a abstinência de carne vermelha. No entanto, o mais importante é que seja feita uma refeição simples, ou seja, não tem sentido, como fazemos no Brasil, comer bacalhau, já que, pela qualidade (e pelo preço também!), não consiste exatamente em alguma penitência, mas num banquete. Há quem também faça jejum total durante esses dias, bebendo somente água durante todo o dia. Importante lembrar que o jejum é um exercício de ascética, que ajuda no autocontrole, na capacidade de renúncia e, também, quando nos abstemos de algo que gostamos, podemos perceber a potência de nossas dependências. É um exercício muito interessante. No fundo, a gente percebe quem é que manda”, pontua o padre, que lembra a obrigatoriedade do jejum a todos os fiéis de 18 a 59 anos, salvo em casos problemas de saúde e outras condições.

O que pode e não pode na Quaresma?

Segundo recomendações feitas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em seu site, são permitidas ou não recomendadas as seguintes práticas:

Permitido

  • Jejum e abstinência;
  • Oração;
  • Caridade e obras de misericórdia;
  • Serviço voluntário – incluindo ajuda aos necessitados e visitas e doentes e presos; e
  • Reflexão e meditação.

Recomendações

Não há uma cartilha expressa de proibições, mas recomendações da Igreja, como:

  • Não comer carne vermelha;
  • Excessos em todas os aspectos da vida como alimentação, financeiro e outros; e
  • Práticas pecaminosas.

A Semana Santa

Com o fim da Quaresma, a Igreja entra na Semana Santa, a mais sagrada do ano litúrgico, culminando na celebração da ressurreição de Jesus Cristo, no Domingo de Páscoa.

O período é marcado por profunda devoção e celebração entre os católicos, momento em que eles contemplam os eventos essenciais da fé cristã e reafirmam seu vínculo com Jesus Cristo, sendo essas as principais datas:

  • Domingo de Ramos: retorno de Jesus à Jerusalém, onde seu regresso foi recebido com ramos de Palmeira e aclamações. Neste dia, diversas paróquias têm a tradição de distribuir ramos durante as missas.
  • Quinta-feira Santa: celebração da última ceia de Jesus com discípulos, instituindo a chamada “Santa Ceia”, base da Eucaristia, também conhecida como Comunhão. Na data, também é realizada a cerimônia do Lava-Pés, recriando o gesto de Jesus.
  • Sexta-feira Santa: a Paixão de Cristo, marcada por diversos eventos que levaram à crucificação de Jesus Cristo, e sua morte na cruz são recordadas pelos católicos na Sexta-feira Santa. É um dia de profundas reflexões, jejum e abstinência, onde muitos fiéis participam de serviços litúrgicos como a Via Sacra, que lembra a trajetória seguida por Jesus até o local de crucificação, além de leituras de escrituras.
  • Sábado Santo (ou Sábado de Aleluia): um dia de preparação e espera para a celebração da ressurreição de Cristo. Diversas paróquias realizam a chamada “Vigília Pascal”, marcando o início da celebração do renascimento de Jesus.
  • Domingo de Páscoa: como citado no início da matéria, é o ápice da Semana Santa, quando é celebrada a ressureição de Jesus dos mortos. A data é tida por católicos como uma renovação da fé e na vida eterna, para quem nela acredita, assim como ocorreu com Jesus, segundo a Bíblia.

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