Após doze anos, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) elevou a nota da dívida soberana do Brasil. O país saiu da nota BB-, três níveis abaixo do grau de investimento, para a nota BB, dois níveis abaixo. A S&P concedeu perspectiva estável, o que não indica alterações nos próximos meses.

A S&P atribuiu a melhoria da nota brasileira à aprovação da reforma tributária, ocorrida na sexta-feira (15). Segundo a agência, a conclusão das discussões em torno da modernização do sistema tributário brasileiro amplia a trajetória de implementação de políticas pragmáticas no país nos últimos 7 anos.

Conforme destaca Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica do Goldman Sachs para a América Latina, agora a S&P está no mesmo nível da Fitch (BB) e da Moody’s (Ba2) em escala de rating do Brasil, todas dois níveis abaixo do grau de investimento.

Para o economista, a notícia é positiva, mas ainda há um longo caminho pela frente para recuperar o cobiçado selo de grau de investimento.

“O rating da S&P estava em descompasso com as outras duas principais agências de classificação. Na nossa avaliação, três níveis abaixo do grau de investimento para um país com uma posição externa muito sólida foi um exagero. A S&P reconhece abertamente que a melhoria é, em grande medida, por conta de uma série de reformas que começaram há 7 anos (há três administrações) e de uma âncora monetária crível”, avalia.

Ramos ressalta ainda que subir na escala de classificação e eventualmente recuperar o estatuto de grau de investimento exigiria reformas decisivas e políticas macro, micro e de regulação que apoiassem o investimento e a alocação eficiente de recursos, fomentassem o crescimento da produtividade (ou seja, elevassem o atual modesto potencial de crescimento real do PIB), abordassem questões fiscais e estabilizassem a dinâmica da dívida.

“Na nossa avaliação, fora a política monetária, a atual combinação de políticas macro e micro e as perspectivas de reformas ainda estão distante para alcançar o desejado grau de investimento”, reforça o economista.

Impacto no mercado

A elevação da nota pela S&P, ainda que tenha sido lida como positiva e tenha acelerado a queda do dólar na sessão de terça-feira e a alta do Ibovespa, não levou a um movimento tão expressivo do mercado, com o dólar comercial fechando em baixa de 0,81 (R$ 4,864 na compra) após oscilar em baixa durante todo o dia, enquanto o Ibovespa caminhou para fechar o dia em alta de 0,59%.

Daniel Wainstein, sócio sênior da Seneca Evercore, avalia que o mercado já vinha precificando uma redução significativa do risco Brasil.

O CDS de 5 anos (precificação de risco de default do país) caiu 45% nos últimos doze meses e atingiu recentemente o patamar mais baixo desde março de 2020. O S&P, portanto, segue a Moody´s, Fitch e também a própria visão do mercado, avalia.

“Sem dúvidas, estamos encerrando 2023 com um cenário inesperadamente positivo, principalmente considerando onde estávamos nas últimas eleições presidenciais e pelo primeiro trimestre do ano, onde encaramos a pior crise de crédito que o Brasil teve nas últimas décadas”, aponta o especialista.

Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura, vê o o evento como positivo, mas sem grandes repercussões. “Para ter efeito nos preços locais, teria que ser uma revisão para BB+ ou uma nota superior. Aí sim, estaríamos diante de uma novidade significativa”, avalia.

Além disso, reforça Leandro Ormond, analista da Aware Investments, a situação fiscal do país ainda preocupa. “A S&P aponta que o déficit nas contas públicas segue elevado e que, caso a dívida pública aumente acima do esperado, a agência poderá revisar para baixo as perspectivas e a nota do Brasil”, destaca Ormond.

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