O showrunner de “The Regime”, Stephen Frears, é um homem de poucas palavras quando se trata de música – pelo menos de acordo com o premiado compositor Alexandre Desplat. Mas isso não foi uma coisa ruim. Os dois já haviam colaborado anteriormente, e Desplat gostou dessa abordagem, pois lhe deu liberdade para criar composições que pudesse trazer de volta ao diretor.
Recrutado para “The Regime”, da HBO, estrelado por Kate Winslet como a chanceler que reina sobre um país não identificado da Europa Central, Desplat buscou inspiração na atuação, no design e nos figurinos de Winslet. “A música precisava ser carregada de humor, mas não muito”, diz ele. “Também precisava haver uma presença sinistra. Há algo desconfortável nessas pessoas. Eles são quase tristes e são loucos e únicos, então a música tinha que mostrar esse mundo desesperado.”
Ele se viu escrevendo músicas repletas de “sons da Mitteleuropa. A música nunca é realmente feliz. É uma estranha mistura de melancolia e alegria na música que você ouve”, explica Desplat.
O mundo do espetáculo, com enormes palácios e um país pronto para entrar em guerra, ditou a necessidade de uma orquestra de bom porte para fundamentar a partitura. Além disso, Desplat recrutou músicos tocando balalaica (um instrumento musical de cordas russo) para criar uma mistura de sons. Ele acrescentou o cimbalom, que, combinado com as orquestrações, infundiu energia na partitura.
Quando Frears ouviu pela primeira vez uma sugestão de Desplat, o showrunner sugeriu que ela aparecesse no tema do título principal. “Começa cada episódio e tem a escala de um grande filme”, diz Frears. “Quando estávamos em Viena filmando, eles nos deram cinco palácios, então na minha cabeça eu sempre imaginei que este era um filme enorme, e um piano não iria funcionar. Precisava de escala e substância.”
Enquanto Desplat observava Winslet, ele pensou no tema dela. Aqui estava um personagem que ele via como alguém que se vestia com cores ridículas e se amava. “Havia algo pomposo nela, e meu desafio era traduzir isso para música.
A música não é engraçada e você não pode traduzir o humor na música, então precisava ser sobre o andamento, as paradas e os inícios e o arranjo dos instrumentos”, explica Desplat. “O tema dela não era para ser engraçado. Foi perturbador.
Nos três episódios finais, Desplat entregou o bastão de pontuação ao compositor Alex Heffes. Para homenagear aquele “aperto de mão musical”, Heffes usou algumas músicas de Desplat na abertura do episódio 4. Mas à medida que o show segue uma direção sombria, o mesmo acontece com a música, com Heffes guiando a jornada. “Recapitulei o tema principal do Alexandre no final para juntá-lo ao novo material que havia escrito, de modo que parecia que um laço havia sido colocado em toda a peça.”
Ajudando Heffes a injetar um novo som na partitura está a chegada do ex-chanceler que virou prisioneiro de Hugh Grant, Ed Keplinger. “Com o personagem dele, você não sabe quem ele é. Ele é bom? Você pode confiar nele? Então, foi interessante que sua música fosse como areia movediça”, explica Heffes.
O tema de Ed permitiu a Heffes expandir a paleta instrumental e ele trouxe um coro. Mas ao invés de ter algo melódico e harmonioso, Heffes deu ao som uma qualidade percussiva gutural acompanhando os grunhidos, gemidos e batidas do coro.
“Eu adicionei combinações estranhas de didgeridoo, ukulele e banda marcial para enganar o ouvinte”, diz Heffes. “Eles acham que sabem para onde esse show vai, mas não sabem.”
Com o tom do show sendo sombriamente engraçado e cheio do humor negro de Frears, Heffes fez questão de traçar como a música tocaria nos dois episódios finais. “Eu marquei os altos e baixos, então onde o show é implacável, a música também não se torna isso”, diz Heffes.