Pesquisadores da Universidade de Osaka descobriram que considerar as questões de sustentabilidade através das lentes das “gerações futuras imaginárias” fornece perspectivas valiosas sobre os avanços tecnológicos e as tendências da sociedade.
O mundo está à beira de um limiar ambiental crucial; as escolhas que fazemos hoje em relação à energia, aos recursos e ao ambiente terão consequências profundas para o futuro. Apesar disso, a maior parte do pensamento sustentável tende a limitar-se ao ponto de vista das gerações atuais.
Em um estudo publicado em Previsão Tecnológica e Mudança Socialinvestigadores da Universidade de Osaka revelaram que a adopção da perspectiva das “gerações futuras imaginárias” (IFGs) pode produzir insights fascinantes sobre tendências sociais e tecnológicas de longo prazo.
O estudo de caso: vidro poroso produzido hidrotermicamente
Os pesquisadores organizaram uma série de quatro workshops na Universidade de Osaka, com participantes provenientes do corpo docente e discente da Escola de Pós-Graduação em Engenharia. Os workshops discutiram o estado da sociedade futura e da produção em geral, e também analisaram uma tecnologia em particular: o vidro poroso produzido hidrotermicamente. Durante os workshops, os participantes foram convidados a pensar nesta tecnologia a partir da perspectiva dos IFGs, a imaginar como esta tecnologia poderia ser adoptada no futuro e a avaliar a sua potencialidade futura.
“Escolhemos o vidro poroso produzido hidrotermicamente para o estudo de caso devido às compensações geracionais envolvidas”, afirma o autor principal do estudo, Keishiro Hara. “O vidro poroso é incrivelmente útil como filtro para remoção de impurezas ou como isolante para edifícios. Além disso, pode ser reciclado em novo vidro poroso mais ou menos indefinidamente. O problema é que a sua produção exige muita energia – tanto para pulverizar resíduos de vidro como para aquecer água a temperaturas muito elevadas. Há um equilíbrio impressionante entre os custos agora e os ganhos no futuro.”
Nos workshops, os participantes analisaram primeiro as questões que envolvem a sociedade e a produção a partir da perspectiva do presente e depois foram convidados a imaginar-se no lugar dos seus homólogos em 2040.
Imaginando um futuro sustentável
“O futuro que os participantes imaginaram era bastante diferente do futuro visto da perspectiva da geração atual”, explica Toshihiro Tanaka, autor sênior. “A maioria dos grupos descreveu um futuro em que a sustentabilidade se tornará uma preocupação central para a sociedade. Entretanto, os avanços na energia renovável significam que a energia é abundante, assim como os recursos, à medida que fronteiras como a Lua e os oceanos profundos são abertas à exploração. Neste contexto, o vidro poroso produzido hidrotermicamente surge como uma forma sustentável de reciclar vidro, e a energia necessária para produzi-lo está prontamente disponível.”
Os participantes foram entrevistados entre os workshops e solicitados a classificar indicadores relacionados ao potencial futuro da tecnologia. Curiosamente, estas classificações pareciam bastante diferentes depois dos workshops em que os participantes foram convidados a assumir a perspectiva das “gerações futuras imaginárias”.
“Percebemos que quando o método das “gerações futuras imaginárias”, que comprovadamente é eficaz para facilitar o pensamento de longo prazo, foi adotado, os participantes perceberam a viabilidade dessa tecnologia de forma diferente e seus cenários de adoção mudaram de acordo”, diz Hara.
O estudo sugere que o simples ato de nos colocarmos no lugar das gerações futuras pode proporcionar novas perspectivas sobre questões de sustentabilidade e tecnologia, ajudando-nos a repensar as nossas prioridades e a definir novos rumos para a investigação e desenvolvimento.
Referência: “Avaliando a potencialidade futura das tecnologias a partir da perspectiva de “gerações futuras imaginárias” – Um estudo de caso de tecnologia hidrotérmica” por Keishiro Hara, Iori Miura, Masanori Suzuki e Toshihiro Tanaka, 29 de fevereiro de 2024, Previsão Tecnológica e Mudança Social.
DOI: 10.1016/j.techfore.2024.123289
O estudo foi financiado pela Sociedade Japonesa para a Promoção da Ciência.